(Jornada) Akira

No céu azul, os raios de sol dançam como ondas douradas atrás das montanhas. Vindo de uma terra distante, um rio se estende por uma planície cheia de florestas e chega até a cidade de Geneze. Escondida e relativamente desconhecida, Geneze é o lar de um menino um tanto quanto diferente.

Da janela de sua casa, Akira observa os Pidgeys, alegres, atravessando as nuvens. O vento movimenta seu cabelo escuro, e, atrás de um par de óculos preto, seus olhos castanho-escuros passeiam pela paisagem natural. O som dos Pokémon da floresta domina os ouvidos do garoto. "Eles devem estar se preparado para o inverno, que começa daqui alguns dias", pensou.

Involuntariamente, Akira deixa escapar um sorriso no canto direito de sua boca, mas logo sua face fica séria novamente. A imagem de florestas do mundo todo começam a surgir em sua mente, mesmo que ele ainda não as conheça. Com sua imaginação, ele vai se afastando da realidade...

— Akira! Venha aqui, agora! — uma voz desagradável aos ouvidos do garoto abafa o som da floresta.

Como se acabasse de levar um tapa, Akira se recupera do transe em que se encontrara.

— De volta ao mundo real. — sussurrou para si.

Levemente irritado, o menino calça seus tênis e segue a voz que acabara de chamá-lo. A casa de Akira é grande, se comparada as outras da cidade, mas não chega a ser uma mansão.

No corredor que vai até a cozinha, o garoto passa por Ruby, o Persian de estimação de sua tia. Um Persian é um grande felino de pelo pálido, com uma joia vermelha em sua testa. Essa espécie costuma ser agressiva com os outros, algo que Akira aprendeu do jeito difícil.

Sua tia, acima do peso, esta sempre bem vestida. Joias e pérolas não faltam em suas pulseiras e colares. Seu casaco bege contrasta com o cachecol vermelho e seu cabelo loiro, que cheira a perfume. As rugas na pele se disfarçam com a maquiagem exagerada. Com uma expressão de raiva, a senhora olha para seu sobrinho:

— Minha amiga muito rica vai vir me visitar, então eu quero causar boas impressões. Por favor, não apareça por aqui até ela ir embora.

Sem se importar muito com as palavras, Akira pega uma fatia de pão de cima da mesa e diz:

— "Tá" bom, eu só vou preparar um lanche para depois.



Ao abrir a porta, Akira começa a caminhar para a floresta, em busca de algo interessante. Sem reparar muito no caminho, ele logo chega em seu destino. As árvores, ainda maiores de perto, apresentam um tronco forte e enrugado. O verde domina o ambiente por meio dos arbustos, plantas e musgos espalhados pelo solo.

Adentrando a floresta, Akira consegue ver seu reflexo na água cristalina do rio, que desce das montanhas. As águas dançam suavemente com o vento. O ar fresco, graças às árvores e ao rio, chega ao nariz do garoto, causando um alívio instantâneo.

Com tudo tão calmo, o menino volta para sua imaginação. Ele vai para outro mundo. O mundo de seus pensamentos.

— kooooooo!

Com um pulo que quase o joga para dentro do rio, o Akira acorda.

— Que barulho foi esse? — diz em voz alta, sem perceber.

De repente, a visão do menino fica totalmente escura. Uma enorme dor de cabeça o atinge, acompanhada de um zumbido em seus ouvidos. Suas costas parecem bater contra algo.

Agora de olhos abertos, Akira se vê caído no chão. Ao seu lado, uma espécie de bola marrom também descansa sobre a grama. Conforme seus sentidos voltam, ele se levanta. "Essa bola deve ter me derrubado", conclui.

Chegando mais perto, Akira vê que aquela bola é coberta por penas. A curiosidade não deixa que ele ignore o "objeto". Com apenas um toque...

— Kooooooo!

Como reflexo, o menino retira sua mão. Apesar do susto, ele consegue identificar esse som. É de uma coruja!

— Você é um Pokémon, né? — pergunta o garoto.

A corujinha começa a encarar Akira com seus olhos grandes. O menino percebe um ferimento grave na asa esquerda da criatura, além de cortes menores pelo seu corpo.

O som de asas batendo revela que algo se aproxima. Um enorme pássaro pousa na frente de ambos. Com olhos raivosos, ele observa o humano, mas a verdadeira atenção vai para a coruja. Um clima hostil fica no ambiente.

Nesse momento, uma grande mudança na vida de Akira e daquela corujinha estava prestes a ocorrer...

Continua...

Observações:

Akira sente o coração acelerar e a respiração pesar. O nervosismo de encarar aqueles olhos maldosos domina seu corpo. Afetada também pelo medo, a corujinha tenta se esconder atrás das pernas trêmulas do garoto.

O grande pássaro, coberto por uma plumagem marrom, parece pronto para atacar. Suas principais armas, o bico longo e as garras, são rosados. A crista no topo de sua cabeça se parece com um moicano vermelho. O pescoço comprido se ergue, e as asas se abrem, revelando a cor bege em suas extremidades.

Akira consegue lembrar do nome deste Pokémon. É um Fearow. Ele nunca tinha visto um tão de perto. Qual o motivo de tanta agressividade? Não havia tempo para pensar sobre isso.

Um ataque se aproxima. A grande ave se projeta como um jato para a corujinha, apontando suas garras. A ave pequenina fecha seus olhos, parecendo desistir de tudo. Percebendo que nada aconteceu, ela os abre novamente.

— E-eu vou te...proteger... — diz Akira, em pé na frente da coruja, com seus braços estendidos para os lados.

Sangue escorre do garoto, deixando manchas vermelhas no solo. O grande pássaro se afasta para trás, enquanto o menino perde as forças e cai. Akira sente mais uma pancada em suas costas, desta vez parece doer mais. Agora é possível ver os ferimentos em seu peito, causados pelas garras do Fearow.

A corujinha começa a fazer perguntas para si. Por que ele me ajudou? Nos nem nos conhecemos! Humanos não deveriam ser ruins? O que eu devo fazer? Nenhuma resposta surgia em sua mente.

— Fuja! — ordena Akira.

O Pokémon raivoso prepara mais um ataque. Desta vez, parece pronto para destruir tudo em seu caminho.

— Fu...ja! — as palavras saem falhadas.

De repente, a coruja ergue a sua cabeça. Ela tomou sua decisão. Com um pequeno pulo, sobe em cima da barriga do menino ferido. Suas asas se abrem, imitando a posição que o garoto fizera antes. Ela não podia deixá-lo para trás. Ele a protegeu. Ele é seu amigo.

— Koooooo! — um som que parecia dizer "Eu vou protege-lo!".


— Mas... os seus ferimentos... — Akira se preocupa com a corujinha, mas ela o ignora.

Com passos desengonçados, a pequena coruja volta para o solo e começa a correr na direção do adversário. Ela parece determinada, sem se importar com a dor. Seu bico começa a brilhar, parecendo ser extremamente forte.

Sem se intimidar, o pássaro maior utiliza o mesmo movimento, apontando seu longo bico para o alvo. Os dois Pokémon começam a disputar com seus bicos. Como era de se esperar, a força do Fearow é superior, arremessando o rival pequenino para trás.

A corujinha aterrissa com dificuldade e quase perde o equilíbrio. A poeira levanta do chão com o bater das asas de seu adversário, que prepara outro ataque. O grande bico se aproxima.

— Desvie! — Akira tenta ajudar.

Com algumas batidas de asas e um salto, a coruja desvia do ataque.

— Cuidado! Ele ainda não termi...

Tarde demais. Fearow usou um Fury Attack, que consiste em acertar o alvo diversas vezes.

— Kooo! — a criaturinha é atingida por várias bicadas e, em seguida, cai no chão.

Estaria tudo perdido? Não para aquela pequena e determinada ave. Com movimentos lentos e dolorosos, a corujinha se ergue novamente.

— Isso é impossível! Como ele fica de pé? Ele está lutando... por mim? — o garoto se impressiona com aquela coragem.

Akira também levanta. A dor que domina seu peito não é maior do que a dor de deixar um amigo sozinho. Todo o seu corpo se agoniza, mas isso simplesmente não importa.

— Quando eu mandar, ataque ele com tudo! — o menino se esforça para gritar.

Por ser uma coruja, a criaturinha consegue girar seu pescoço em 180 graus, olhando direto para o humano que acabara de conhecer. Seus olhos mostram que ela está pronta para atacar.

— Agora! — Akira arremessa uma pedra que atinge a cabeça do Fearow.

Sem pensar duas vezes, a corujinha corre e aponta seu bico brilhante para o inimigo. O ataque acerta em cheio o peito do grande pássaro.

— Isso! — o menino comemora, mas cedo demais...

Apesar de ferido, o Fearow ataca com seu pescoço, arremessando a coruja para longe. Neste momento, um detalhe que havia passado despercebido, chega a Akira. No pescoço do Pokémon inimigo, há uma coleira, que parece possuir algum tipo de tecnologia. Talvez este seja o motivo de toda aquela fúria.

— Como eu não vi isso antes? Tinha certeza de que não havia nada lá... — o menino olha para a coruja — Tente atacar o pescoço dele com algum ataque a distância!

De pé novamente, a ave pequenina se prepara. Folhas verdes e luminosas são disparadas de suas asas. Akira nunca tinha visto um ataque como esse. As folhas se direcionam para o pescoço do Fearow.

Sabendo que aquele ataque não causaria muito estrago, o pássaro raivoso recebe o dano calmamente. Após um Crack, a coleira misteriosa se parte. A grande ave parece acordar de um transe.

— Deu... certo!


Após se despedir do Fearow, que parece não se lembrar de nada, os dois novos amigos se sentam na sombra de uma árvore velha.

— Parece que acabou... — Akira esta exausto — Para onde você vai agora?

— Koo! — a coruja move sua cabeça para os lados.

— Você não têm pra onde ir? Bem, primeiro vamos cuidar dos machucados, depois pensamos no resto. Acho que vou te chamar de... Hal!

— Koooo! — ele parece gostar.

— Depois, eu tenho um lanche no meu bolso, ele esta protegido, não deve ter sujado. Vamos dividi-lo!

Após criarem forças para levantar, os dois caminham para fora da floresta. Akira leva consigo a coleira tecnológica, agora partida em duas. Ele imagina que mistérios podem estar por trás dela...

Continua...

Observações:

As florestas que rodeiam Geneze são incrivelmente ricas em fauna e flora. Diversos tipos de Pokémon, árvores e Berries podem ser encontrados nas densas selvas da região. Obviamente, muitos viajantes são atraídos por essa enorme variedade de espécies, mas apenas os mais corajosos, ou simplesmente desinformados, se aventuram por essa vegetação misteriosa.

É claro que muitos não terminam sua aventura pelas florestas e acabam voltando repletos de ferimentos e medo, trazendo em seus braços pequenos companheiros, no mínimo desmaiados. Por conta disso, surgiu a ideia da construção de um grande hospital, bem no centro de Geneze, que possuísse uma estrutura e profissionais preparados para cuidar dos infelizes curiosos, sendo eles humanos ou Pokémon. Essa é história da origem do grande Hospital Coração Selvagem.

Neste exato momento, uma pequena corujinha desengonçada segue um jovem de óculos que se dirige a este mesmo hospital...



— Chegamos! — diz Akira, parando em frente a porta de um enorme prédio branco com um telhado vermelho.

O Pokémon coruja para ao lado do garoto, observando o grande símbolo do hospital: uma serpente roxa, conhecida como Ekans, enrolada em um cajado com uma Pokébola na ponta, sendo esse o simbolo que representa a medicina em todo o mundo.

Akira dá um passo para frente, fazendo a porta abrir automaticamente. Mesmo confuso com o que acabara de acontecer, Hal segue seu amigo até o interior do hospital.

O ambiente é dominado pelo branco e parece bem limpo. Várias fileiras de cadeiras, pretas e aparentemente confortáveis, acomodam as várias pessoas na recepção. Na frente, um balcão para três recepcionistas. Também há alguns vasos de plantas pelos cantos.

O garoto não se impressiona muito, pois já está familiarizado com o local. Por outro lado, a corujinha parece olhar atentamente em volta. Hal nunca havia visto algo assim. Estar em um local lotado de humanos parece deixá-lo inquieto.

— Fique calmo! — Akira coloca seu amigo trêmulo em seus braços — Ninguém vai te fazer mal!

O menino senta-se em uma das cadeiras, com o Pokémon no colo, e espera por sua vez. Novamente, Akira começa a viajar pelos seus pensamentos enquanto alisa as penas da coruja, que se tranquiliza aos poucos.

Após algum tempo, quando Akira já estava perdido em sua mente, o som de uma explosão chega aos seus ouvidos a aos de todos os moradores da cidade de Geneze. Ele abre os olhos, mas não consegue enxergar nada, apenas escuridão. Com uma excelente visão noturna, Hal se mantêm calmo com a situação.

Em Construção...

Observações: